os meus filhos dormem bem.
dormem mesmo.
não é para me gabar… é só sorte.
mas toda a sorte… um dia acaba!
os meus filhos dormem juntos no mesmo quarto.
deitam-se às 20h30 e dormem, sem crises até ao dia seguinte.
pelas 21h00 já estão todos mais que KO.
A Eduardinha é a primeira.
Cai que nem um tordo.
O Vicente e o António ainda aguentam mais 5-10 minutos na palhaçada. Mas regra geral o Vicente também adormece e o António, sem companheiro de palermice… acaba por se ficar.
Não sei, ao certo, quando é que as coisas mudaram.
Se foi com a mudança da hora, se com o fim da escola… sei que gradualmente, o António deixou de conseguir adormecer assim.
Passam as 21h… 21h15….21h30…. esta mãe já exaspera.
Vai ficar 10 cm mais baixo só porque não dorme esta meia hora…
pensa esta mãe que achava (!!!) que dominava o mundo do sono.
21h45… e o António canta. levanta-se. vai mexer nas gavetas da casa de banho. Ninguém dá por nada. Só no dia seguinte quando tudo está fora do sítio e as pulseiras da mãe aparecem por baixo da almofada dele.
22h00…
António, filho, dorme…
Não cunsigo dumir…
Vai para a cama da mãe.
Tá bem!
22h15… António continua a cantar… 22h30… 22h45. Estranhamente damo-nos conta que parou o remexer dos lençóis. Os passinhos escondidos… as idas à torneira beber água. Sim, já tentei deitar-me com ele. Ele finge que dorme ferrado, eu volto para a sala… e no dia a seguir descubro mais uma pulseira escondida na cama dele.
Já dei abraços. Já perguntei o que se passa. Já gritei…
Hoje estava cansada.
Já eram 22h30. Eu sei a falta que este sono lhe faz. Eu sei que ele dorme de tarde… mas… se ele sempre dormiu bem…
Hoje pensei… bom, não tenho nada a perder.
Peguei num pano.
Um pano curto.
Um pano que estava aqui em cima do móvel, nem sei bem porquê.
Subi as escadas e lá estava o António de perna cruzada, deitado na minha cama…
Não consigo dumir…
Sentei-me.
Peguei no pano e comecei a abri-lo.
Ele olhou para mim… achou aquilo estranho…
O que é mamã?
Pegou nele, naquele lusco fusco do meu quarto, em que nos vemos, mas sem muito detalhe e cheirou…
Huuummm… tão bom. É um pano?
Tocou, olhou.
Tão lindo mamã. É para ti?
Passei o pano pelas costas, de pernas cruzadas, sentada na minha cama. Chamei-o para o colo.
Sabes António, quando eras pequenino, não gostavas de dormir no pano…
E fui fazendo um slipknot às escuras. Sem perfeição. Deixei que sentisse o nosso cheiro. Aninhou-se. Deixei-me ficar assim, de pernas cruzadas com ele virado para mim, encaixados, barriga com barriga, pernas cruzadas com pernas cruzadas. Presos no abraço do pano. Senti a cabecita dele suar. A respiração mais funda. Um estremecer muscular.
Adormeceu.
Deixei-me ficar a sentir-lhe o cheiro. O cheiro deste meu bebezão de 3 anos, que não quer colo há tanto tempo, mas que nos seus medos, nas suas fragilidades, no escuro da noite se deixa ser um bebé e dormir no pano.
Quando me perguntam: até quando posso carregar no pano?
Regra geral, respondo na brincadeira: Até eles fugirem de nós…
A partir de agora, vou começar a dizer: Enquanto eles precisarem.